Tipos de Garfos

Tipos de Garfos

História do GARFO

A história do garfo revela, mais do que a história dos utensílios de cozinha, aevolução dos modos à mesa - o que chamaríamos, modernamente, de etiqueta. Esta, por sua vez, é apenas uma das formas relevadoras da estruturadas relações sociais, assunto tão caro ao sociólogo alemão Norbert Elias (1897-1990).

Para este estudioso, mais do que uma atitude higiênica contra o hábito medieval de levar a comida à boca com as mãos, o uso do garfo "nada mais é do que a corporificação de um padrão específico de emoções e um nível específico de nojo". Ou seja, comer com as mãos, na passagem da Idade Média para a modernidade, passou a ser um tabu, um "sentimento ritualizado ou institucionalizado de desagrado, antipatia, repugnância, medo ou vergonha".

Os livros de etiqueta do início do século XX discorrem em detalhes sobre os usos do garfo - ou melhor, dos garfos. O escritor Bee Wilson, autor do livro Pense no Garfo, afirma que "a preocupação em demasia com o garfo correto era sinal de insegurança, ou até de falsidade". Embora o uso de talheres fizesse parte do cultivo das boas maneiras, tais modos mudavam rapidamente, de uma década para outra. No começo do século XIX, por exemplo, houve um breve modismo de se tomar sopa com o garfo. Algo que logo foi abandonado por tratar-se de "uma tolice". Nas altas rodas da Inglaterra, havia refeições servidas como bufês, denominadas "almoços de garfo" ou "jantares de garfo", em que o uso da faca era totalmente dispensada. Mesmo para sobremesas, o garfo parecia ser o utensílio mais elegante.

Parece, entretanto, haver pistas de que o garfo foi utilizado não apenas por cortesãos, já no século XIII. Em 1255, William de Rubruck relata ao príncipe Louis IX, da França, o uso do utensílio pelos povos da Mongólia para se alimentarem.      Além do mais, nem todos os garfos primitivos possuíam dois dentes. Muitos deles tinham quatro dentes, e o número de dentes era um indicativo de função, não um sinal de antiguidade. Dois dentes são ideais para espetar carnes, por exemplo. Três ou mais, para levar a comida à boca. Houve experiências com garfos de até cinco dentes, mas que acabaram por não vingar. Eram dentes demais para se colocar na boca. Na Roma antiga, havia lanças e espetos de um dente só, para coletar das conchas moluscos difíceis de alcançar, ou para manipular a comida no fogo.

Invenção mais recente do que a faca, o garfo já tem registros desde o século XI. Há referências ao uso do garfo - de ouro e com dois dentes - por uma rainha veneziana, nascida na Grécia em 1050. Mas, e de acordo com Elias, seriam precisos mais cinco séculos para que o uso deste utensílio servisse a fins mais gerais, e não fosse considerado, pela Igreja, um refinamento exagerado, um vício, capaz de provocar a ira de Deus. Do século XVI em diante, e somente entre a classe alta, o garfo passou a ser usado como utensílio regular nas refeições, primeiramente na Itália e, depois, na França, seguida da Inglaterra e da Alemanha.

No início, era utilizado apenas para retirar alimentos das travessas. Só depois começou a ser usado, literalmente, para comer. O garfo, inicialmente feito de prata ou ouro, foi artigo de luxo até, pelo menos, o século XVII. Ele aparece no inventário do rei inglês Henrique VII, em 1549, à mesa de casamento de Catharina de Médicis, em 1530, e na obra Santa Ceia, do pintor italiano Jacopo Bassano, em 1599.