Caminhos de Santiago Es

Caminhos de Santiago Es

Os Caminhos de Santiago são rotas de peregrinação que levam ao túmulo do apóstolo São Tiago, localizado na cidade de Santiago de Compostela, na Espanha. Existem várias rotas ou trilhas, também conhecidas como Caminhos ou Caminhos de Santiago, que atravessam diferentes regiões da Europa. Aqui estão algumas informações sobre o turismo nos Caminhos de Santiago:

  1. Caminho Francês: O Caminho Francês é a rota mais popular e tradicional, estendendo-se por cerca de 800 km desde a cidade de Saint-Jean-Pied-de-Port, na França, até Santiago de Compostela. É conhecido por suas paisagens deslumbrantes, cidades históricas e albergues para os peregrinos.

  2. Caminho Português: O Caminho Português é outra rota bastante percorrida, começando em várias cidades de Portugal, como Lisboa, Porto ou Tui, na fronteira com a Espanha. Essa rota oferece uma combinação de paisagens costeiras e rurais, com uma rica herança cultural ao longo do caminho.

  3. Caminho do Norte: O Caminho do Norte segue a costa norte da Espanha, oferecendo vistas deslumbrantes do mar Cantábrico. É uma rota mais desafiadora, devido ao terreno montanhoso e às longas distâncias entre as cidades, mas é uma experiência gratificante para os peregrinos que buscam uma rota menos movimentada.

  4. Caminho Primitivo: O Caminho Primitivo é considerado o Caminho Original de Santiago, percorrido por São Tiago em sua peregrinação. Esta rota parte da cidade de Oviedo, nas Astúrias, e segue por paisagens montanhosas e aldeias pitorescas antes de se encontrar com o Caminho Francês.

  5. Caminho Inglês: O Caminho Inglês era historicamente percorrido pelos peregrinos que chegavam à Espanha de barco e desembarcavam em cidades como Ferrol ou A Coruña. É uma rota mais curta, ideal para aqueles que têm menos tempo disponível, oferecendo uma mistura de paisagens costeiras e rurais.

Durante a peregrinação nos Caminhos de Santiago, os peregrinos têm a oportunidade de desfrutar de belas paisagens, descobrir cidades históricas, experimentar a cultura local e conhecer outros peregrinos de todo o mundo. Há também a possibilidade de se hospedar em albergues para peregrinos, onde se pode compartilhar experiências e histórias com outros viajantes.

Ao longo das rotas, existem marcos simbólicos, como cruzes e placas indicativas, bem como igrejas, mosteiros e catedrais históricas que podem ser visitadas ao longo do caminho. Ao chegar a Santiago de Compostela, os peregrinos têm a oportunidade de visitar a majestosa Catedral de Santiago, onde está o túmulo do apóstolo São Tiago, e participar de cerimônias religiosas e culturais.

Caminhar nos Caminhos de Santiago é uma experiência única, espiritual e culturalmente enriquecedora. No entanto, é importante fazer um planejamento adequado, estar preparado fisicamente e estar ciente das condições do percurso, além de respeitar a tradição e a cultura dos Caminhos de Santiago.

O Caminho de Santiago de Compostela é uma ancestral rota de peregrinação que se estende por toda a Península Ibérica até a cidade de Santiago de Compostela, no extremo oeste do Reino da Espanha, aonde se acredita estar o túmulo do apóstolo homônimo.


Desde o século IX, homens e mulheres partem de suas cidades tendo como destino aquele lugar sagrado, movimento este que teve seu auge nos séculos XII e XIII com a passagem de centenas de milhares de viajantes.


Hoje em dia, pessoas de todas as idades imitam os passos medievais e percorrem este antigo traçado; uns por espírito religioso-cristão, outros por misticismo, busca interior ou apenas como uma grande aventura.


Um pouco de história:


Segundo uma tradição muito antiga, após a dispersão dos apóstolos pelo mundo, São Tiago, foi pregar as "boas novas" em regiões longínquas, passando algum tempo na Galiza, extremo oeste da Espanha. Ao retornar à Palestina, foi preso e decapitado, e seu corpo jogado para fora das muralhas de Jerusalém.


Dois de seus discípulos, Teodoro e Atanásio, recolheram seus restos e os levaram de volta ao ocidente de navio, aportando na antiga cidade de Iria Flávia, na costa oeste espanhola, sepultando-o secretamente em um bosque de nome Libredón.


O lugar foi esquecido até que oito séculos depois, um ermitão chamado Pelágio começou a observar um estranho fenômeno que ocorria neste mesmo lugar: uma verdadeira chuva de estrelas caía todas as noites sobre um ponto no bosque, emanando uma luminosidade intensa.


Avisado das luzes místicas, o bispo de Iria Flávia, Teodomiro, ordenou que fossem feitas escavações no local encontrando, assim, uma arca de mármore com os ossos do santo.


A notícia se espalhou e pessoas começaram a deslocar-se a fim de conhecer o sepulcro originando o Caminho de Santiago de Compostela.


O Ano Santo.


O Jubileu Apostólico ou Ano-Santo Compostelano foi criado pelo Papa Calixto em 1221. Desde então, toda vez em que o dia consagrado a São Tiago –25 de julho, quando suas relíquias foram achadas por Teodomiro– cai em um domingo, este ano torna-se particular, com especiais bênçãos e privilégios espirituais aos peregrinos. Assim, na década de 90, foram contemplados o ano de 1993 e o calendário de 1999.


Uma grande festa se realizou a meia-noite do dia 31.12.1998, com a abertura da "Porta Santa" da Catedral de Santiago de Compostela; esta que ficou aberta por todo o ano.


O Ano Santo de 1999 foi:


O último da década - Nos anos 90, comemorou-se em 1993.


O último do século - 1909, 1915, 1920, 1926, 1937, 1938 (extraordinário), 1943, 1948, 1954, 1965, 1971, 1976, 1982, 1993 e 1999.


O último do milênio - O derradeiro festival Compostelano do segundo milênio, comemorado metodicamente desde 1221. O próximo será só em 2004.



A Arte no Caminho



A Rota de Santiago é o mais extraordinário trajeto monumental de todo Ocidente. São centenas de construções civis, militares e religiosas acrescentadas através dos séculos, que constituem-se muitas delas exemplos maiores de seus estilos arquitetônicos (românico, gótico, barroco, plateresco e neoclássico).

Assim, em 1993 o Caminho de Santiago de Compostela foi declarado Patrimônio da Humanidade por Decreto da Unesco.



A Peregrinação nos dias de hoje.



Embora não haja um ponto de partida definido (muitos europeus saem da porta de sua casa, seja ela onde for), a maioria dos modernos andarilhos acabam escolhendo um dos pontos cercanos à fronteira francesa, no caso, Saint-Jean-Pied-de-Port, Roncesvalles ou Somport (vide mapa).


Há em média 20.000 pessoas por ano viajando pelo norte da Espanha nas três maneiras reconhecidas como formas autênticas de peregrinação: a pé, de bicicleta ou a cavalo.



A Peregrinação de Santiago no Brasil.


A popularização do Caminho no Brasil deve-se, em primeiro lugar, ao escritor Paulo Coelho, que em seu livro "O Diário de Um Mago", expôs sua peregrinação pelos campos espanhóis.


Outro fator decisivo foi a criação, em 1995, da Associação de Confrades Amigos do Caminho de Santiago de Compostela - Brasil ( 11 – 6950 5845), com sede em São Paulo, a primeira entidade do gênero na América Latina. Só em 1999, foram mandados à Espanha cerca de 1.370 peregrinos brasileiros, número este, bem superior aos anos anteriores.


DICAS PRATICAS:

Especiais para quem vai fazer a peregrinação da forma mais tradicional: "a pé"

(passe o mouse sobre as fotos para ver as legendas)

Nota: esta parte do site vem a ser um conjunto de sugestões para que os futuros peregrinos possam usufruir desta experiência com mais conforto e intensidade. Porém, trata de opiniões pessoais. Ou seja, se você pretende fazer o Caminho, deve consultar outros sites, livros e confrontar opiniões.

Alerta aos brasileiros peregrinos

Conforme divulgado em jornais e TVs, infelizmente o Governo da Espanha intensificou o rigor na entrada de turistas sul-americanos no país. Sugiro ao futuro peregrino que leve do Brasil sua "Credencial de Peregrino" (vide abaixo) além de contatar a Embaixada da Espanha a fim de colher mais informações (necessidade de outros documentos e vacinas). Outra dica: leve impresso alguns dados deste site (as "30 dicas extras", por exemplo) para mostrar sua real intenção de fazer o Caminho.

Embaixada da Espanha no Brasil, departamento consular:

(61) – 3244 2121 / 3244 9365 / 3242 1020

1- A "Credencial del Peregrino":

É um documento que dá direito ao portador de pernoitar em albergues especiais, igrejas e monastérios ao longo de toda a Rota espanhola. Nele, há várias lacunas em branco para serem postos de carimbos nos lugares que lhe hospede a fim de comprovar sua passagem. Assim, mais tarde ao chegar em Santiago, você receberá a "Compostela", um belo diploma escrito em latim – em tudo igual aos concedidos na Idade Média – coroando sua peregrinação.

A credencial não é um documento obrigatório para se trilhar o Caminho. A utilidade dela vem do fato de poder usar a rede de albergues e sua infra-estrutura, além de dar direito de, se quiser, sacar o diploma em Santiago (note que para ter direito ao diploma, é necessário percorrer ao menos os últimos 100 quilômetros a pé ou os últimos 200 de bicicleta).

Este "passaporte" pode ser sacado em quaisquer das Associações de peregrinos existentes no mundo, embora cada uma delas tenha uma certa burocracia diferenciada a esta concessão (algumas pedem até uma carta de apresentação de uma paróquia...).

No Brasil pode ser obtido na Associação de Amigos e Confrades do Caminho de Santiago - Brasil, a primeira entidade de auxílio aos peregrinos na América Latina, bastando enviar (por carta ou fax) uma cópia da passagem aérea à Europa; ou então comparecendo pessoalmente a sua sede, munido da documentação (identidade e passagem).

O documento é gratuito, sendo cobrado apenas o envio para sua cidade (para quem não mora em São Paulo).

Associação de Amigos e Confrades do Caminho de Santiago - Brasil

Rua França Pinto, 203, Vila Mariana, São Paulo-SP, 04016-131

Telefone: (11) 5549-6160

Danilo Tiisel - Fundador / Marcos Valério - Presidente

* Horário de atendimento (pessoalmente ou por telefone):

Segunda a sexta-feira, das 10 às 18 h;

Sádados, das 10 às 14 h.

2- De onde iniciar a jornada?

A primeira escolha é de onde iniciar a façanha. Os dois pontos de partida mais comuns são Saint-Jean-Pied-de-Port (foto), na França (774 quilômetros distante de Santiago), e Roncesvalles, já na Espanha (750 quilômetros de caminhada), através da Rota Navarra (vide mapa). Há também um outro trajeto mais ao sul, utilizado em menor escala, que parte de Somport (850 quilômetros de Compostela), conhecido como a Rota Aragonesa, e que se une com o primeiro roteiro 200 quilômetros depois.

Calcula-se que um andarilho com saúde perfeita e preparo físico mediano, possa vencer a pé a distância que separa Saint-Jean de Santiago entre 29 e 33 dias efetivos (e ininterruptos) de caminhada (desde Roncesvalles, um dia a menos).

É claro que você tem toda liberdade de escolher um ponto mais perto de Santiago, como Pamplona (706 quilômetros), Burgos (450 quilômetros de Compostela) ou León (a "apenas" 300 quilômetros de Santiago) por exemplo, tão como, um lugar de partida bem mais distante, como Le Puy ou Paris. Ou seja, não existe um lugar específico de saída – é você que escolhe onde o seu Caminho deve começar.

Na minha opinião, o ideal seria você iniciar a rota em Roncesvalles. Claro que, não havendo essa possibilidade (falta de tempo por exemplo), você pode sem problemas fazer só a metade (desde Burgos) ou apenas o último terço (León) do Caminho sugerido (há pessoas que escolhem fazer apenas os últimos 100 quilômetros da rota, desde o povoado de Ferreiros, na Galiza). Mas saiba que quanto mais tempo você passar no Caminho, mais intensa e rica em experiências será a viagem. A decisão é toda sua.

Caso a sua escolha seja Saint-Jean-Pied-de-Port ou Roncesvalles (os lugares mais comuns de partida, principalmente aos brasileiros), tão como Somport, veja abaixo minhas dicas de como chegar a estes locais (a partir de Madri).

2.1 - Para quem decidiu partir de Roncesvalles:

1º Passo: de Madri até a cidade espanhola de Pamplona.

a- De avião: você pode comprar desde o Brasil esta conexão junto com o bilhete internacional. Em alguns casos (Cia. Ibéria, por exemplo), fica muitíssimo barato fazer o trajeto Madri-Pamplona de avião (inclusive, pode-se adquirir o trecho aéreo por inteiro: Brasil-Madri-Pamplona/Santiago-Madri-Brasil), O vôo de Madri a Pamplona dura 45 minutos. Fique atento que o portão de embarque para vôos nacionais fica em outro terminal, no lado oposto do desembarque internacional.

b- De trem: usado pela maioria dos peregrinos: após o desembarque, pegue o metrô (no final do aeroporto, após o terminal de vôos locais) a fim de chegar a Estação de Trem Chamartín. O bilhete até Pamplona custa (31 euros aprox.) e a viagem dura 5 horas. Confira horários no site www.renfe.es .

2º Passo: de Pamplona até Roncesvalles:

Boa parte das pessoas que utilizaram o avião ou trem chega pela noite em Pamplona. Na estação de trem ou no aeroporto, pegue um ônibus ou táxi até o centro da cidade, pedindo para saltar na Praça Príncipe de Viana. Lá, há vários hotéis e pensões onde você pode passar a noite.

Uma dica útil: há a possibilidade de você ficar um bom tempo no aeroporto esperando que apareça um táxi ou ônibus. Assim, leve anotado o telefone da central de táxi de Pamplona (984 22 12 12 / www.radiotaxipamplona.com), pois o aeroporto é pequeno e há horários (em especial pela noite) que não há condução esperando os viajantes.

A partir de Pamplona, há 2 opções para chegar em Roncesvalles:

a- De ônibus: de Pamplona até Roncesvalles há ônibus apenas às 18h, pela Companhia La Montanhesa (948-22 15 84 / www.lamontanhesa.com.br). Assim, quem pernoitou em Pamplona terá o dia inteiro para conhecer os pontos turísticos da cidade (aproveite bem, pois quando você retornar a Pamplona como peregrino, poderá estar muito cansado para visitar Museus e Igrejas...).

b- De táxi: se preferir pegar um táxi diretamente até Roncesvalles, você deve negociar com um taxista o preço, por volta de 80 euros. Claro que se você chegar pela noite em Pamplona, deve esperar para ir de táxi somente dia seguinte, pois o albergue de Roncesvalles fica em um Monastério e tem hora para fechar (geralmente às 23h). Além disto, só há uma pensão naquele vilarejo.

Chegando Roncesvalles, vá direto ao prédio do Seminário Mayor de Santa Maria, onde é reservado dois imensos quartos com beliches a todos aqueles portadores da credencial. Se ainda for de manhã ou início da tarde, se desejar pode pegar um carimbo na credencial e sair logo caminhando (o próximo albergue de peregrinos fica 22 quilômetros depois, em Zubiri; porém, antes deste povoado, há três vilarejos dotados de pensões – Burguete, Espinal e Viscarret). Caso a sua ansiedade de iniciar o Caminho não seja assim tão grande, você pode ficar neste vilarejo todo o dia conhecendo seus colegas e, pela noite, participar da missa com uma solene bênção dos peregrinos seguindo antigos ritos medievais. Algo fantástico e inesquecível.

É claro que quem escolher partir de Saint-Jean, albergando-se em Roncesvalles, também terá a oportunidade de passar por esta incrível experiência.

Endereços úteis em Roncesvalles:

Albergue de Peregrinos: Colegiata de Santa Maria de Roncesvalles (fone: 948 76 00 00).

Hospedarias: La Posada (948 76 02 25) e Casa Sabina (948 76 00 12).

Endereços úteis em Pamplona:

Albergue de Peregrinos: Iglesia de San Saturnino, Calle de Ansoleaga, 02 (importante: em períodos de maior movimento, são habilitados escolas e ginásios para este fim).

Hotel: há várias pensões baratas na Praça Príncipe de Viana.

Loja de equipamentos de aventura: Coronel Tapioca - Calle Sangüesa, a uma quadra da Praça Príncipe de Viana.

Informações turísticas: Calle de Ahumada, no. 03 (fone 948 22 07 41).

Loja de bicicletas: Decathon

Oficina de conserto de bicicletas: Ciclos Alberto, Monstério de Urdax, 23 (fone: 948 17 26 09).

Estação de ônibus: Conde Olivetos, sem número.

Hospital de Navarra: 948 42 21 00

Cyber café: Calle Garcia Castanón, 2.

2.2 -Para quem decidiu partir desde Saint-Jean-Pied-de-Port:

1º passo: chegar em Pamplona (igual ao item anterior).

2º Passo: Pamplona - Saint-Jean. A partir de Pamplona, há duas possibilidades:

a- Você pode pegar em Pamplona um táxi direto para Saint-Jean (o equivalente a 120 euros – não esqueça de negociar o preço e tentar achar outros peregrinos para dividirem com você a fatura).

b- Ir até Roncesvalles de ônibus (ver itens anteriores) e pegar um táxi de lá até Saint-Jean. O problema, neste caso, é que você tem que marcar antes, já que os taxistas vivem em povoados próximos.

Alguns contatos de taxistas das redondezas:

Sr. Telexeia (povoado de Zibiri): 948 30 40 06 / 948 79 02 18

Sr. Andoni: 948 79 02 18

Chegando em Saint-Jean, procure no centro histórico (fechado para automóveis), na Rue de la Citadelle, no. 39, o albergue de peregrinos (ou alguma das várias pensões existentes nesta área da cidade). Até bem pouco tempo atrás, nesta mesma rua vivia a Madame Debril (personagem de "O Diário de um Mago", de Paulo Coelho), falecida em maio de 2000, grande incentivadora das peregrinações, que por mais de 30 anos atendeu voluntária e carinhosamente os peregrinos. Tive o privilégio de conversar com ela longamente em 1993. Desde aqui, minhas homenagens a esta grande dama.

Endereços útes em Saint-Jean:

Informações turísticas - Place de la poste - Tél.: 05.59.37.03.57

Pensão Etchogoin - 05 59 37 12 08

IMPORTANTE: o trecho de Saint-Jean-Pied-de-Port até Roncesvalles é o mais difícil de todos, ainda mais sendo o primeiro dia de caminhada. São 27 quilômetros de subidas fortes que parecem que não vão acabar nunca e uma descida abrupta. Não há em toda a rota um povoado onde você possa se abastecer de comida e, o que é pior, havia (ao menos até bem pouco tempo atrás) somente uma fonte rústica de água, um pouco depois da saída de Saint-Jean. Eu mesmo sofri muito em 1993 por excesso de peso na mochila, despreparo físico, fome, falta de mapas detalhados e melhores informações.

Assim, se você pretende começar em Saint-Jean-Pied-de-Port, seja prudente, avaliando antes as suas condições físicas. Saia cedo (um pouco antes do sol raiar), bem alimentado (importantíssimo), com água no cantil e um pouco de comida (mas sem exageros) na mochila.

Não esqueça de verificar na véspera onde você poderá tomar o café da manhã bem cedo antes de iniciar o trajeto. Sugiro também que você compre de véspera alguns chocolates e sanduíches, pois não deve haver nenhum mercado aberto na hora que você partir de Saint-Jean, e o café da manhã geralmente não é muito reforçado nos hotéis e pensões. Esteja atento para não passar fome na subida dos Pirineus.

Outra precaução importante para quem vai no início da primavera ou final do outono: verifique se as rotas não estão cobertas de neve; se o Caminho está trafegável na parte mais alta da montanha.

Ah, já ia esquecendo: tome cuidado na saída de Saint-Jean para não pegar a rota errada, pois há dois itinerários possíveis (e devidamente sinalizados) até Roncesvalles:

a- A Rota de Napoleão, também chamada de Port de Cize, utilizada pela grande maioria dos peregrinos, seguindo pela montanha por ramais asfaltados e belíssimas trilhas de pastores, sem passar por nenhum vilarejo.

b-A Rota de Vancarlos, seguindo por estrada asfaltada na encosta da montanha, cruzando um povoado (Vancarlos) que, embora pareça mais fácil que a primeira, é muito, muito perigosa, pois a estrada só tem duas mãos e não possui acostamento, além da constante névoa dificultando a perícia dos motoristas.

2.3 - Para quem decidiu partir de Somport:

Para os que desejam aventura e solidão, há também um outro itinerário possível, a não menos tradicional Rota Aragonesa (foto acima) que parte de Somport na fronteira franco-espanhola (vide mapa), e que se une com o primeiro trajeto na cidade de Puente la Reina, 200 quilômetros depois. É uma rota um mais difícil, com poucos lugares dotados de albergues e longas distâncias entre os povoados. Também, mais bela, rústica, longa e solitária que o trajeto anterior.

Então se você for corajoso e preferir este traçado, deve seguir as instruções anteriores até a cidade de Pamplona. Depois, há três possibilidades:

a- De Pamplona, pegar um ônibus até a cidade espanhola de Jaca (pronuncia-se "Raca"). Lá, você passaria a noite no albergue de peregrinos ou, se preferir, em um dos hotéis e pensões do lugar. Dia seguinte, bem cedo, tomar um táxi (reservado na véspera – uns 30 euros) que lhe levará em 20 minutos até a fronteira (Somport).

Lembro que Somport não é cidade, e sim, um mero ponto geográfico com apenas um monumento e aduana (desativada) separando os dois países, sem, portanto, possibilidade concreta de albergar-se ou comprar mantimentos (tenho informações que em algumas épocas do ano, é aberta aos peregrinos uma rústica cabana de caçadores, mas nada que se possa confiar... ).

Assim, chegando lá, você deve saltar do táxi e iniciar imediatamente o seu Caminho, tendo o povoado seguinte dotado de certa infra-estrutura (restaurante, pensão e hotel) só 7km depois, em Confranc Estación.

b- Outra possibilidade é você chegar em Jaca e imediatamente pegar um táxi até Somport, tomando o cuidado de calcular bem a etapa do dia, já que provavelmente você iniciará o Caminho no início da tarde, com menos tempo de "trabalho" antes de escurecer.

c- Você pode economizar tempo indo direto de táxi (o equivalente a 130 euros) de Pamplona a Jaca, ou mesmo, direto de Pamplona até Somport (dependendo, como falei antes, da hora).

É bom ressaltar: nestes dois últimos casos ("b" e "c"), fique atento para a hora que você iniciará a etapa do dia, pois caminhar por trilhas rústicas no escuro é algo perigoso e não muito confortável.

Para quem gosta de arte medieval, há neste itinerário grandes exemplos de arquitetura em estilo românico: Igrejas de Jaca, Sangüesa, Monreal e – especialmente - Eunate. Há também, dentro da Rota Aragonesa, alguns desvios (rotas alternativas) que levam peregrinos mais curiosos (e mais dispostos a gastar a sola do sapato) a lugares mágicos como San Juan de la Peña, Berdún e Javier .

Endereços úteis de Jaca:

Albergue de Peregrinos: Calle Conde Aznar (974 - 36 15 94).

Hotel Alpinia (974 36 40 26); El Albeto (974 36 16 42).

Restaurante: La Cocina Aragonesa. Cervantes, 05 (974 36 10 50).

3- A melhor época:

Usualmente, as melhores épocas para iniciar a jornada são finais de abril até início de junho; ou então de setembro até finais de outubro.

A fórmula é simples: tentar escapar dos extremos, no caso o inverno (sempre rigoroso para os padrões tropicais) e o verão (deveras cálido e com as rotas e albergues sempre lotados).

O seu agente de viagens pode lhe ajudar nesta escolha.

Clima no Caminho de Santiago (aproximadamente):

Inverno: Máxima de 16o C e mínima de -4,5o C

Primavera: Máxima de 24o C e mínima de 5o C

Verão: Máxima de 36o C e mínima 12,5o C.

Outono: Máxima de 25o C e mínima de 7o C.

4- Viajando à Espanha:

Para brasileiros não é exigido visto, porém, é bom contatar a Embaixada para melhores informações. Às vezes, é necessário tomar a vacina contra Febre Amarela recebendo o devido documento (que só tem efeitos legais depois de 10 dias). É bom lembrar que há uma política de contenção de imigrantes em toda Europa, e há a possibilidade mesmo remota de você ser indagado na aduana sobre seus propósitos de viagem (ainda mais na condição de mochileiro...) É tudo rotina e, se por acaso acontecer, você não deve temer nada. Fale a verdade e mostre sua "credencial del peregrino". Tenho certeza que tudo sairá bem.

Telefones úteis:

- Embaixada da Espanha no Brasil (Brasília): (61) 242-4515

- Embaixada do Brasil na Espanha (Madri): 91308-0459

- Chamadas a cobrar a partir da Espanha (telefonista falando português): 900-990055

5- Retornando da Espanha:

Em Santiago de Compostela há aeroporto com diversas saídas diárias a Madri e Barcelona. Você pode também fazer este trecho de ônibus ou trem (07 horas de viagem aproximadamente).

Se estiver em alta temporada, e você tiver com a volta em aberto (ou perdido a reserva), há o perigo de passar dias na lista de espera do aeroporto em Madri ou Barcelona. Este período de lotação acentua-se mais por volta de 15.07 até 10.08, quando se torna tão laborioso arranjar vaga em vôo ao Brasil quanto percorrer a Rota de Santiago. Por isso, todo o cuidado com o cálculo das datas é pouco.

6- O quanto levar?

No Caminho você passará por dezenas de povoados e cidades dotados de estabelecimentos públicos, desde quitandas até restaurantes de luxo. No norte espanhol a comida é muito barata, haja vista serem grandes produtores de carne, cereais e vinho. Uma refeição sai em média a 09 euros (com o vinho incluso). Em muitos locais há o "menu del peregrino", com preços promocionais -baixíssimos- para quem apresentar a credencial.

A decisão do quanto levar é uma das mais pessoais. Muitos levam uns 2000 euros e passam muito bem, usufruindo certos luxos, podendo ainda fazer algumas compras em Santiago. Outros, se contentam em gastar 1500 ou 1000 euros (o que, pessoalmente, eu considero mais que suficiente). Há também os que levam menos de $700 euros e fazem uma viagem com um quê a mais de aventura...

É bom lembrar que o povo norte-espanhol tende a confirmar uma tradição de séculos em cuidado aos peregrinos, oferecendo em alguns casos comida e bebida gratuitamente aos mais necessitados. De qualquer forma, é bom você levar um cartão de crédito internacional para qualquer eventualidade. O Diners e o Visa são os mais aceitos.

7- O que levar?

Leve o menos que puder. Lembre-se que a mochila estará sempre em suas costas por todos os longos quilômetros.

O Caminho de Santiago de Compostela é um exercício de desapego. Só mesmo quando você trilhar esta rota mágica que entenderá completamente isto.

Aqui vai uma pequena lista do que é realmente indispensável:

- Um saco de dormir (apropriado para a época do ano, e o mais leve possível)

- Mochila (leve e com armação interna de metal)

- 02 capas de chuva (uma especial para a mochila, outra para você)

- Toalha de banho pequena

- Um par de botas (amaciadas, por favor!)

- Uma esteira isolante de material sintético

- Um par de sandálias

- Um cantil leve

- Uma lanterna pequena

- Material de primeiros socorros e de higiene (não esqueça antibióticos e outros remédios controlados

que você possa necessitar).

- Um conjunto de moletom (material substituível por Tac-tel ou Suplex)

- 03 camisas de malha

- 02 shorts

- 01 calção de banho/biquíni (para o verão)

- Chapéu ou boné

- 04 pares de meias (que junto com as camisas e outros itens, também podem ser adquiridas ao longo

do percurso)

- 01 caderno pequeno de notas (para as suas "memórias")

- 01 máquina fotográfica pequena e leve (Idem)

- Roupas íntimas.

8- Botas ou tênis?

Outra opinião: eu prefiro os tênis abotinados, tipo versões do NikeAir de cano alto – o meu já agüentou 1700Km e hoje se encontra "aposentado", pendurado no espelho de minha cama como uma relíquia. Eles que protegem o tornozelo, são mais leves e – principalmente – arejados. Único problema é que, se chover, você terá que vendar partes do calçado com esparadrapo ou plástico...

Mas há pessoas que se adaptam melhor às botas pela sua rigidez e impermeabilidade, principalmente para quem vai em meses de maior chuva ou frio.

Muito importante: este é o caso de você testar antes, ou seja, fazer algumas caminhadas para ver a sua adaptação ao calçado.

9- Os Albergues:

Se você já frequentou um Albergue da Juventude, não terá problemas em acostumar-se a um Refúgio de Peregrinos (foto). Nos últimos anos, as prefeituras e Associações espanholas têm procurado melhorar as condições físicas dos já existentes, além de construir outros mais.

Eles geralmente fecham para limpeza pela manhã (lá pras 9 ou 10 horas) e abrem pela tarde (16 ou 17 horas). Para ficar, basta apresentar sua "credencial". É geralmente cobrada uma contribuição módica para a manutenção (de 03 a 05 euros). As pessoas ficam em beliches com colchão nu, onde você deve instalar seu seu saco de dormir.

Você encontra de tudo: aventureiros em geral, jovens colegiais, padres em retiro espiritual, típicos cidadãos urbanos, casais de idosos, lunáticos, pícaros, esotéricos e santos... Até turistas disfarçados de peregrinos (que roubam os lugares dos verdadeiros andarilhos nos albergues). Homens e mulheres de todas as idades e condições sociais.

É obedecida a ordem de chegada, embora os que caminham a pé tenham (teoricamente) prioridade sobre os ciclistas, mesmo chegando depois. Os banheiros tendem a ficar no final do dia em estado péssimo de higiene dado a quantidade de pessoas que o usaram por todo o dia. E pela noite, você talvez esteja tão cansado que não se importará com a sinfonia de "roncadores" profissionais instalados ao seu lado.

Mesmo com estes desconfortos, aqui vai mais uma opinião: procure ficar sempre nos albergues de peregrinos. Sim, pois é lá que você conhece o verdadeiro Caminho. Convivendo com os andarilhos e compartilhando, desde comida a emoções. É claro que você pode preferir em alguns lugares pagar uma pensão barata e usufruir de privacidade. Mas, se puder, siga este meu conselho. E depois me conte!

10- As bolhas:

Dificilmente alguém por mais preparado que esteja vai escapar destas irritações cutâneas. Por isso ponho aqui duas receitas:

a- Pegue uma agulha com linha embevecida em mercúrio cromo e a introduza na chaga, deixando no interior da bolha parte do fio com ambas extremidades da linha para fora, fazendo uma espécie de drenagem do líquido a fim de "secar" a ferida.

b- Fure a bolha com uma agulha esterilizada e depois aplique um "Compeed" (espécie de band-aid, na Espanha vendido em qualquer farmácia). Para melhores resultados, use o "Compeed" como preventivo, pondo-o assim que você notar uma irritação - por menor que seja - no pé.

Muito importante: As bolhas "de sangue", ao contrário das bolhas d'água, devem ser tratadas com o auxílio de um médico.

Outra dica de prevenção: vou dar um segredo passado para mim pela Fátima Moraes Sousa, atual campeã sul-americana de ultramaratona 48 horas, e que fez o Caminho em outubro de 2000: comprar na farmácia "micropore", uma espécie de esparadrapo, só que bem mais fino. Antes de iniciar cada etapa do Caminho, com os pés secos, colocar o micropore em todos os dedos do pé, envolvendo-os totalmente (inclusive a unha) em duas camadas, só tirando durante o banho. O micropore ameniza o atrito com os calçados e retém a umidade. A Fátima também usava um pouco de vaselina e talco bactericida por cima de tudo antes de calçar as meias (isto eu mesmo comprovei que dá certo na prevenção).

11- Os perigos:

Outras das dúvidas mais comuns: Quais verdadeiramente os riscos?

A- Roubos: Bem, os peregrinos hoje são vistos como "turistas pobres". Ou seja, o foco dos assaltantes certamente vai para os turistas "endinheirados" da costa do sol. Já pequenos furtos é algo que pode acontecer (como em qualquer parte do mundo...). Assim, leve o seu dinheiro e passaporte sempre com você, e não deixe nada de valor sozinho e muito à vista. Eu, por exemplo, carregava preso na barriga uma daquelas pequenas bolsas secretas de dinheiro (a venda nas casas de viagens), a qual levava até para o banho, pendurando-a no chuveiro. Muito importante: tome cuidado especial com seu dinheiro nas grandes cidades, em especial em Madrid e Pamplona. Não guarde sua bolsa de dinheiro na mochila.

B- Integridade física: esta uma preocupação constante das mulheres que enviam suas dúvidas a este site.

Pela minha experiência, vejo os estupros, assédios e voyerismo algo incomum, ou até inexistente no Caminho. É claro que por vezes ouvimos falar em um ou outro caso, mas, até agora, não tenho nenhuma comprovação. Repito: como em qualquer lugar no mundo, ficar atento(a) não custa nada.

C- Atropelamentos: Em alguns pontos, a rota cruza ou acompanha auto-estradas movimentadas. Todo o cuidado é pouco! Lembre-se que depois de horas de caminhada os reflexos ficam comprometidos.

D- Problemas de saúde: Ah, isto sim é preocupante. Sim, pois muitos se mandam à Espanha para andar horas a fio com a mochila nas espaldas, subindo e descendo montanhas baixo o sol forte, sem fazer antes nenhum teste clínico ou consulta médica. Se você não tem mais aqueles 20 aninhos nas costas, por favor, faça uma consulta prévia ao médico. Conte para ele que você pretende andar 800 quilômetros. Ele certamente dirá que você está louco... Mas em compensação, você partirá para a Espanha muito mais tranqüilo.

Dica Extra: O Brasil possui convênio com a Espanha através do INSS. Com ele os brasileiros previamente cadastrados ficam aptos a utilizar a rede de hospitais e serviços públicos de saúde espanhóis.

Outra opção é comprar no Brasil um seguro-saúde internacional (vendido em agências de turismo).

Maiores informações (em SP): Consulado Geral da Espanha

Av. 9 de Julho, 611 - sala 502

telefone: (11) 239-2197

12- Os cães:

Embora no passado uma das grandes ameaças aos andantes, os cães (os que vivem soltos no mato) hoje em dia não representam sérios riscos, dado ao paulatino aumento da quantidade de peregrinos e a reabertura de antigas rotas campesinas, obrigando os cães a procurarem outro local ermo para morar. Mesmo assim, portar uma vara de madeira como cajado ajudaria a afugentar qualquer companheiro de viagem indesejado (além de ajudar como base de apoio).

Em tempo: estes bordões podem ser colhidos na Rota ou comprados em lojas de lembranças.

13- O que fazer para não se perder?

Em todo o norte da Península Ibérica, desde os Pirineus, a leste, até os confins da Galiza, a oeste, foram postos pelas Associações européias rústicos sinais para a orientação dos andarilhos, em especial nas áreas mais desabitadas.

São placas, monólitos, emblemas, pedras sobrepostas e principalmente pinturas em forma de flechas amarelas.

Hoje, os modernos viajantes encontram no chão, em postes, monumentos, muros, troncos de árvores e até nas fachadas de residências as famosas flechas amarelas, verdadeiras estrelas-guias dos peregrinos. Basta segui-las para chegar a Santiago de Compostela.

Há também livros-guia, ou seja, modernas publicações prolixas de mapas e dicas que ajudam os peregrinos a vencerem a longa empreitada. As melhores são (em espanhol):

- El Camino de Santiago, Ed. El Pais y Aguilar, 3a edición.

(Ediciones El País, S.A. y Aguilar, S.A. - Juan Bravo, 38, 28006,

Madrid/Espanha - Fone: + 322-4700)

- El Camino de Santiago. Guia del Peregrino. Ed. Everest.

(Editorial Evergráficas, S.A. - carretera León-La Coruña, km 5. León/Espanha)

14- Quantas horas de caminhada diária?

Duas regras básicas:

A- Não andar rápido demais: Caminhe percebendo o que acontece ao seu redor, tão diferente do dia-a-dia nas cidades, em que mal temos tempos para pensar em nós mesmos.

B- Nem lento demais: Outrossim, lembre-se que você tem um objetivo pela frente. Devagar em demasia pode desgastar o seu entusiasmo. Mas, ao final, a escolha é mesmo sua.

A média da grande maioria dos peregrinos que conheci é de 5 a 11 horas de caminhada diária, com várias (muitas e muitas) pausas para descanso e contemplação da natureza e dos monumentos históricos nas cidades e vilarejos.

As distâncias entre os albergues variam em aproximadamente 20Km. Entre uma povoação e outra, 5Km (embora em casos isolados possam chegar até 17Km). Já na região da Galiza, os últimos 153Km da Rota de Santiago, estes intervalos caem para um vilarejo a cada 1,5Km.

15- A que horas começar a caminhada?

O Caminho lhe dá a oportunidade de sentir verdadeiramente a natureza: você é acordado pelo sol, não pelo relógio. Come quando sente fome, não em horários pré-determinados. Caminha o tanto que o corpo deixa, e dorme quando -e onde- se pode.

Nos meses de muito calor, porém, é recomendado que você inicie a jornada o mais cedo possível (5 ou 6 da manhã) a fim de evitar as horas mais tórridas, além de dar a oportunidade de você chegar mais cedo ao albergue e ver dobradas as chances de conseguir uma cama vazia e um banheiro ainda limpo.

16- Desvirtuamento do Caminho

Infelizmente, as pessoas começaram a descobrir o Caminho como uma grande fonte de renda. Hoje em dia, são muitos o que se beneficiam das novas ondas de peregrinação.

Os dois principais problemas:

a- Nem todos os companheiros de viagem são peregrinos de verdade. Há alguns (em especial nos meses de verão) que estão ali nos albergues usufruindo de um "turismo barato". São os chamados "falsos peregrinos". Eles são os que chegam por primeiro nos albergues (possuem um carro de apoio levando suas mochilas), pegam as melhores camas, conversam até tarde da noite e sujam os banheiros. São pessoas que dificilmente aprenderão o que é verdadeiramente o Caminho.

b- Atentados ao sabor rústico e original do Caminho: Há governos provinciais que tentam "melhorar" o Caminho afim de atrair mais turistas, construindo estradas especiais para peregrinos em detrimento das trilhas rústicas, ou também instalando um sem número de placas de trânsito sinalizando as rotas (quando antes haviam somente flechas pintadas de amarela nas pedras e árvores), entre outras ações do tipo. Ou seja, um atentado ao sabor original da Rota de Santiago.

Para ambos os casos de desvirtuamento, a melhor arma é a conscientização. Converse. Reclame.

17- Ética peregrina

Mesmo que os outros peregrinos não demonstrem a mesma atenção com você, tome alguns cuidados para com os seus colegas. Lembre-se que os brasileiros possuem alto prestígio no Caminho, tão como em toda a Espanha (leia-se Paulo Coelho, músicos e craques de futebol), e não deve ser justamente você a abalar esta boa imagem, NÃO É?

- Nos albergues, respeite o silêncio absoluto dentro da área de repouso depois das 23h.

- Se você madrugar, não arrume a mochila dentro do quarto (como a grande maioria o faz...). Se quiser mesmo sair cedo, pode ajeitar suas coisas na cozinha, na saleta de entrada ou em outro lugar qualquer. Além de não incomodar ninguém que está dormindo com o barulho, é prático: há mais espaço e você pode ainda acender a luz.

- Cuidado ao falar de política, religião ou futebol.

- Tente não atrapalhar ou interferir em demasia na busca do outro. Cada um faz o seu Caminho.

- Não ignore pedidos silenciosos de ajuda.

18- Sozinho ou em grupo?

A cada ano, o Caminho está mais concorrido, levando em conta os anos (e décadas) anteriores. Ou seja, você só vai andar ou ficar sozinho se quiser. Mesmo no inverno, você encontrará nas rotas e nos albergues peregrinos como você. Acho que no Caminho, às vezes é muito bom a solidão dos quilômetros para você pensar. Mas não sempre! Faça amigos, troque experiências... Mesmo que você não fale a mesma língua, tenho certeza que todos se esforçarão para lhe entender.

19- Preparando-se para fazer o Caminho:

"Quais os preparativos para a peregrinação?" -Esta é uma pergunta que recebi dezenas de vezes por E-mail depois que inaugurei meu site.

Bem, não tive tempo de preparar-me fisicamente (nem emocionalmente) antes de viajar à Espanha, o que pode ter causado alguns poucos transtornos, de certo, mas sem comprometer em nenhum momento minha viagem. Sugiro, portando, um preparo físico mínimo, como por exemplo, 2 ou três meses de academia.

Muitos que conheço antes de partir se encheram de todos os tipos de preparativos, na minha opinião exagerados: fizeram cursos de alpinismo (?); decidiram a época de partir pelo mapa astral; consultaram cartomantes (!) entre outras atitudes mais ou menos esdrúxulas.

Ao contrário disto, acho que consultar um médico, tomar uma vacina anti-tetânica, fazer um mini curso de espanhol, testar calçados e mochila em caminhadas leves são tarefas muito úteis antes de você partir para realizar o seu sonho pelos campos, bosques, montes e vales espanhóis.

20- Mais perguntas?

Se você deseja tornar-se um peregrino e não ficou satisfeito com estes dados, procure pesquisar com pessoas que praticam trekking, leia livros sobre o assunto, visite outros Sites na Web e consulte a Associação ou ex-peregrinos.

Também, você pode mandar sua pergunta diretamente para mim, bastando assinar o Livro de Visitas. Se você quiser receber gratuitamente algumas dicas extras sobre o Caminho, deixe lá seu nome e endereço.

Boa viagem!