Tiradentes - Mg
Tiradentes - Mg
Roteiro da Cidade
Entra-se em Tiradentes pela antiga Rua do Arão, hoje Antonio Teixeira de Carvalho e Inconfidentes. Na praça formada no início desta rua existe a Estação da Estrada de Ferro, bonito prédio construído em 1880/1881, em estilo característico da arquitetura da estrada de ferro, com lambrequins e telhas marselhesas, vindas da França. Ainda estão em funcionamento as locomotivas a vapor que datam do início do século XX. A locomotiva, hoje usada apenas para fins turísticos, corre São João del Rei e Tiradentes nos finais de semana e feriados.
No fim da Rua Areão, atravessa-se a Ponte das Forras, saindo no Largo do mesmo nome, onde crescem frondosas árvores. Aí se encontram lojas de artesanato e à esquerda vê-se a Capela do Bom Jesus da Pobreza e na esquina o belo prédio da Prefeitura. Subindo a Rua Resende Costa chaga-se ao Largo do Sol onde estão localizados a casa do comendador Assis, a igreja de São João Evangelista e a casa do Padre Toledo, antiga Rua do Sol, passa-se pela Casa da Cultura, segunda após o Museu e ainda na mesma, a casa de número 114 que possui um forro pintado. Na confluência da Rua Padre Toledo com a Rua da Câmara está a Matriz. Continuando por trás da Matriz chega-se ao Santuário da Santíssima Trindade, de onde se descortina uma bela vista da serra e do vale do Rio das Mortes. Voltando-se, desce pela Rua da Câmara onde a esquerda está a casa da Câmara, prédio avarandado e à direita o sobrado onde viveu o compositor Pádua Falcão. O pequeno Largo em frente à Câmara era denominado Largo do Pelourinho, por ter existido neste local o Pelourinho.
Deve-se descer à esquerda pela Rua do Jogo de Bola até o Largo do Sol, estendendo-se até o Chafariz.
Voltando do Chafariz é conveniente entrar à esquerda na segunda esquina (os Quatro Cantos) saindo na Rua Direita, podem-se ver nesta rua casas com janelas de rôtulas. Merece visita o prédio da antiga Cadeia em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Retoranando ao Largo das Forras e cruzando a ponte chega-se ao Largo das Mercês, onde está localizada a capela que lhe dá o nome. Retornando o Largo das Mercês e seguindo á direita em direção á Rua São Francisco de Paula se segue em direção à Capela de São Francisco de Paula de onde se tem uma vista incrível de toda a cidade.
Fonte: Olinto Rodrigues dos Santos Filho.
Pesquisador do Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural.
Membro do IHG de Tiradentes
Foto: Kiko Neto
Igreja de Nossa Senhora do Rosário
As primeiras notícias sobre a Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos apareceram em 1727. O prédio atual, todo em alvenaria de pedra, com cunhais, cimalhas e beirais em cantaria, data da segunda metade do século XVIII. A fachada é coroada por um frontão composto por duas robustas volutas de cantaria. Sobre a portada existe um nicho com a imagem de São Benedito. A sineira, acréscimo posterior está inacabada. O altar-mor em estilo de transição D. João V para D. José tem quatro colunas salomônicas que sustentam a arquivolta, com dossel encimado por um medalhão com o rosário sustentado por dois anjos. No trono, compos-
to de volutas está a imagem de Nossa Senhora do Rosário, de origem portuguesa. Nos nichos laterais estão as imagens de Santo Elesbão e São Brás. O primeiro é negro e pisa a cabeça do rei infiel Dunaan; o outro representado como bispo, é protetor contra as doenças de garganta.
Os dois altares colaterais, com pouca talha são pintados em cores fortes, sendo o da direita dedicado a São Benedito e o da esquerda a Santo Antônio de Cartagerona ou do Noto. Estas peças são a interpretação provinciana do estilo D. João V e devem ser originárias da antiga capela. O forro da capela-mor tem pintura em perspectiva barroca, onde uma arquitetura fingida se abre no centro para dar lugar a visão de Nossa Senhora entregando o Rosário a São Domingos e São Francisco. O forro da nave pintado por Manoel Victor de Jesus no início do século XIX, é constituído de 18 caixões nos cruzamentos. Quinze dos quadros representam os mistérios do Santo Rosário e os outros três as invocações da ladainha.
Esta capela pertenceu à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.
Estação Ferroviária
Localizada á entrada da cidade, as margens do Rio das Mortes, o prédio da estação ferroviária foi construído por volta de 1879/1880, tendo sido inaugurado em agosto de 1884 pelo imperador D. Pedro II.
O prédio, bastante simples e modesto, tem as características da arquitetura ferroviária de influência britânica, com longa plataforma de cimento coberta por telhado de duas águas em estrutura de trilhos de ferro importado da Inglaterra e telhas imitando ardósia em material sintético. Os beiraissão ornamentadas com os costumeiros labrequins da arquitetura desta época. Conserva ainda a construção as telhas francesas importadas de Marselha. As locomotivas que hoje ainda circulam entre São João del Rei e Tiradentes, são extremamente interessantes com suas ferragens pretas e douradas, áreas pintadas em verde, o sino reluzindo, o limpa-trilhos bem pintado e a chaminé soltando a serpenteante fumaça. Estas locomotivas datam entre 1909 e 1912 e foram todas fabricadas
Cadeia Pública
A Cadeia da Vila de São José foi construída no início do século XVIII, já separada da Câmara, no local atual. Sobre a construção da antiga Cadeia não há documentação, mas em 1740 foi feito um Passo "Via Crucis" em frente à cadeia, para os presos ouvirem missa.
O prédio atual foi construído entre 1833 e 1845, por ter sido incendiado o velho, por volta de 1825.
O prédio, localizado na Rua Direita, em frente à Capela do Rosário, tem uma certa imponência por suas quatro janelas e uma porta com ombreias e vergas de pedra sabão na fachada. O antigo porão que, segundo informações orais, tinha um tronco para açoite, foi aterrado e recentemente desobstruído, quando se localizou um antigo vazo sanitário de pedra.
No século XVIII o Passo que fica junto à Cadeia serviu para celebração de ofício divino para os presos.
Chafariz de São José
O Chafariz de São José, construído em 1749 pela Câmara para o abastecimento d'água da Vila de São José é uma peça do tipo pariental, lembra uma fachada de igreja, sendo constituída por duas pilastras laterais ornamentadas com vastas volutas e guirlandas de flores de cantaria; o coroamento é feito por um frontão curvo encimado por cruz, com pináculos sobre as pilastras. A parede em alvenaria de pedra abre-se no centro em nicho que guarda a imagem de São José de Botas. Logo abaixo estão colocadas três carrancas com bicas de bronze, donde verte a água a um tanque com paredes sinuosas. No meio do frontão, em pedra talhada, aparece o brazão d'armas do reino de Portugal.
A parte fronteira do Chafariz é circundada por muretas de cantaria que formam um pátio interiormente rodeado de bancos. Nas laterais um bebedouro de animais e duas bicas com tanque para lavadeiras.
A água canalizada em aqueduto de granito lavrado vem desde o local denominado Mãe D'Água, no sopé da serra, um belo bosque.
Casa do Padre Toledo
Importante prédio com suas esquadrias de cantaria lavrada e torreão datável da segunda metade do século XVIII, foi residência do inconfidente taubateano, Padre Carlos de Toledo, que foi nomeado vigário de São José do Rio das Mortes, em 1777.
Consta que o vigário que era possuidor de ricas minas no Arraial da Lage, vivia nababescamente, entre festas e boa música. Mantinha um mulato músico como serviçal da casa. Em 1788 o Padre Toledo ofereceu um festa por ocasião do batizado de dois filhos de Alvarenga Peixoto e Bárbara Heliodora, quando se falou muito do levante projetado em Minas.
A casa, de 14 cômodos, tem oito forros pintados em motivos rococó, destacando-se o que mostra os cinco sentidos representados por figuras da mitologia grega. O forro da sala de jantar é pintado em motivo de frutas e o provável quarto do vigário com as armas da Santa Sé. Existe um interessante porão que serviu de prisão para escravos.
Lá funcionaram a Câmara Municipal e a Prefeitura, até 1963, quando foi transformada em seminário diocesano e, posteriormente em museu.
Acervo do Museu
A maior parte do acervo pertence ao Museu da Inconfidência de Ouro Preto, destacando-se um bom mobiliário entre arcas, mesas e uma bela cômoda-papeleira. Há ainda um retrato de D. Pedro II datado de 1839, obra de Manoel de Araújo Porto Alegre, proveniente da Câmara Municipal de Tiradentes; um São Mateus de Manuel da Costa Ataíde e um quadro representando a leitura da sentença dos Inconfidentes, do final do século XIX de autoria não identificada. Merece nota ainda uma coleção de pequenos quadros dos doze apóstolos, um par de anjos atribuídos a Xavier de Brito, e uma bandeira do Império.
Casa da Câmara
Situada logo abaixo da igreja Matriz, o prédio da antiga Câmara, provavelmente de meados do século XVIII, com acréscimo posterior da varanda, muito diferente das tradicionais casas de Câmara, sendo esta desde o século XVIII separada da cadeia e sem sineira, tendo existido apenas um sino na arcada da varanda.
A varanda projetada para a rua é sustentada por seis colunas facetadas, sendo as duas dos ângulos de cantaria e o restante de madeira. No centro da cimalha sobre a entrada destaca-se um brazão em estilo rococó com o selo da República, evidentemente pintado sobre as armas do Impéirio. O acesso à varanda é feito por um lance de escadas de pedra. O interior modesto consta com oito cômodos, sendo um com forro artesoado. No porão funcionou uma cadeia improvisada, quando em 1825 a cadeia foi incendiada, funcionando até o término do novo prédio, na década de 1840. Em 1893, foi feita uma reforma em que a balaustrada de madeira da varanda foi substituída por gradil de ferro e colocado piso de ladrilho hidráulico na mesma.
Nesta casa reunia-se o senado da Câmara, espécie de prefeitura da época colonial, que recolhia impostos, executava as obras públicas, promovia solenidades cívicas e religiosas, como as festas de Corpus Christi e do padroeiro Santo Antônio. Serviu a Câmara para local de beija-mão dos imperadores, quando passaram por São José.
Em 1890, quando foi criada a Comarca de Tiradentes, o prédio foi dividido entre o fórum e a Câmara, até o ano de 1917, quando a Câmara mudou-se para a casa do vigário Toledo.
Arquitetura Residencial
O campo da arquitetura civil a cidade de Tiradentes conta com alguns sobrados de grande interesse, como o que pertenceu a família Ramalho, onde funciona a Orquestra e Banda Ramalho e obriga eventos culturais, construção da primeira metade século XVIII, sendo o primeiro pavimentado em pedra e cal e o sobrado em pau-a-pique e adobe. As vergas e ombreiras da fachada em cantaria têm conversadeiras no interior. O porão, em época indeterminada, foi adaptado para sala de espetáculo com um pequeno palco. Hoje lá funciona a representação do IPHAN.
O sobrado onde funciona a Prefeitura, datável do final do século XVIII ou princípios do XIX, com seus balcões de ferro batido e sótão constitui um belo exemplar da arquitetura colonial. Duas casas com forro pintado, uma à Rua Padre Toledo nº 114 tem um forro de gamela representando os cinco sentidos e a outra no Largo do Ó número 1, com pinturas primitivas do século XIX (antiga cãs do Padre Caldeira).
O Matadouro Público parece ser o único ainda existente em Minas, foi construído, por volta de 1830/1831, com esteiros de cantaria e cobertura com caibros em distância reduzida, dispensando ripamento.
A Ponte de Pedra ou Ponte das Forras, que liga o Largo das Forras ao Largo das Mercês, foi construída em torno de 1800 sob a administração de João Antônio de Campos, constituída por duas arcadas romanas e muros de parapeito de cantaria
Capela de Bom Jesus da Pobreza
A Capela de Bom Jesus é muito simples, com frontão em volutas repetindo a da Matriz, tendo ao lado uma pequena sineira. O interior, todo pintado de branco, tem um só altar sem talha, onde estão as imagens do Bom Jesus Agonizante, Nossa Senhora do Patrocínio, São Geraldo e nos nichos Nossa Senhora da Conceição e Santa Rita de Cássia. A imagem de Cristo, de rara beleza tem incrustações de rubis em formas de gotículas de sangue. A imagem de São Geraldo em barro cozido é de autoria de um artista popular do princípio do século XX, Joaquim Vicente do Carmo.
Esta capela erigiu-a o capitão-mor da Vila de São José, Gonçalo Joaquim de Barros, em comprimento de um voto, no final do século XVIII, embora a licença para a construção date de 1801. Parece que quando foi concedida a licença, a capela, já estava de pé, pois em 1718 os santos já haviam sido para lá transferidos em procissão. O capitão-mor era proprietário da casa ao lado.
Capela de Santo Antônio do Canjica
A pequena capela do Canjica tem seu nome ligado a uma tradição da época áurea. Contam que o local que hoje existe a lagoa Canjica, um minerador extraiu de sua lavra uma enorme quantidade de pepitas de ouro com incrível tamanho de um grão de milho "canjica"; por esta razão o local passou a chamar-se Canjica. Embora totalmente descaracterizada por sucessivas reformas, o templo ainda guarda a pureza das capelas mineiras. Desconhece-se a data da construção, mas é certo que já existia antes de 1800.
O historiador local, Herculano Veloso admite a possibilidade de ter sido esta a capela primitiva construída nos primórdios do século XVIII.
Em 1800 o bispo de Mariana concede licença para se demolir uma capela de Santo Antônio, possivelmente a que existia próximo a esta, o que nos conta a tradição oral.
No interior existem as imagens de Santo Antônio e São João de Deus, ambas arte popular do século passado, e a primitiva imagem de Santo Antônio no oratório da sacristia.
Capela de São Francisco de Paula
Situada no topo de uma colina verde, de onde se descortina uma bela vista da cidade, a Capela de São Francisco lembra as pequenas igrejas rurais de Minas.
A fachada, com pé direito baixo, tem duas janelas sobre a porta principal central. O telhado se estende para as laterais formando duas sineiras. O interior despojado, com um só altar, ostenta a velha imagem de São Francisco de Paula apoiada em seu cajado. Nos nichos laterais existem uma imagem de Santo Antônio e uma de Nossa Senhora do Carmo. Em reforma na década de 40, as sacristias foram ligadas à nave por arcos plenos.
Existe na parede lateral um painel datado de 1943, assinado por Francisco Rodrigues, onde aparecem várias pessoas da cidade assistindo a uma missa, algumas delas ainda vivas. No forro está um quadro representando o santo, também datado da década de 40 e assinado pelo mesmo pintor.
Em 1769 foi sepultado um cadáver no interior da capela e existem dois ex-votos de 1776 e 1787 provenientes desta capela, hoje guardados na matriz.
Capelas dos Passos
Além das igrejas e capelas, existem na cidade cinco capelinhas denominadas "Passos". São usadas na Semana Santa quando da procissão do Senhor dos Passos, instalada na Matriz, resolve construir os Passos para maior brilhantismo da cerimônia. Foram construídas entre 1730 e 1740, são eles: o do Largo do Pelourinho, junto ao antigo Fórum, o do Largo do Ò, o de frente a Cadeia, o da Rua Direita e do Largo das Forras. Constam de um pequeno retábulo do século XVIII e uma tela representando a subida de Cristo para o Calvário.
Ainda subsiste na rua Padre Toledo, próximo a igreja de São João Evangelista, um Passo desativado em 1870, tendo sido o seu retábulo levado para a igreja do Evangelista, onde foi colocada a imagem processional de Nossa Senhora das Dores. A tela do retábulo despareceu com o tempo.
Igreja de São João Evangelista
A Igreja de São João Evangelista tem fachada simples com quatro portas-escadas, sendo que numa se encontra instalado provisoriamente o sino. O acabamento do telhado é feito todo em beira seveira. A Irmandade de São João Evangelista deve ter sido fundada antes de 1750, na Matriz, onde funcionou até a construção da capela própria, no altar do Descendimento.
Parece que a partir de 1760 a Irmandade começou a construir a capela que só seria terminada no século XIX.
A nave espaçosa não tem nenhum altar, guardando apenas nas paredes quatro telas representando os evangelistas em pintura muito primitiva do início do século XIXI. O altar-mor tem um retábulo com talha rasa, dividido em muitas secções bastante primitivo, datado do princípio do século XIX. Os poucos anjos que existem no retábulo são hirtos e pouco naturais. No camarim existem as imagens de Cristo crucificado tendo as seus pés Nossa Senhora e o apóstolo São João, todas medindo mais de dois metros. Nos nichos estão Santa Cecília e Santa Catarina da Alexandria.
Junto ao arco cruzeiro em talha rococó, existem altares em talha do mesmo estilo, dedicados a Nossa Senhora das Fores e Nossa Senhora dos Remédios.
O altar-mor pode ter sido em parte dourado, pois restam alguns resquícios de douramento principalmente no sacrário.
Os muros da capela mor são ornamentados com dois painéis, um representando São João Evangelista dentro da tacha de azeite fervendo e outro São João feito bispo; no forro da capela mor está representada a visão de São João na abertura do apocalipse em pintura de cunho popular.
À Irmandade de São João Evangelista pertenceram muitos músicos. Supomos que se deva ao fato de a Irmandade manter o culto a Santa Cecília. Entre os músicos enterrados nesta capela está o capitão Manoel Dias de Oliveira, na cova de número dois.
Igreja de Nossa Senhora da Mercês
Por volta de 1760/1770 a Irmandade de Nossa Senhora das Mercês iniciou a obra de sua capela, pois em 1790 já estava fazendo os acabamentos como a pintura e o douramento. A fachada é simples com frontão composto por duas volutas, tendo no centro d'armas da Irmandade. A sineira só vem a ser construída entre 1850 e 1860. No interior só existe o altar-mor com talha rococó do final do século XVIII. O forro da nave, em pintura rococó, é todo rodeado por um balcão onde estão representados os coros dos anjos e os dois santos fundadores da ordem: São Raimundo Nonato e São Pedro Nolasco. No centro, céu aberto aparece a imagem de Nossa Senhora das Mercês entre nuvens e anjos. O forro da capela-mor, em caixotões representa algumas inovações da ladainha de Nossa Senhora. O arco cruzeiro e o retábulo foram pintados em cores vivas e com partes douradas pelo mesmo Manoel Victor de Jesus.
No trono existem as imagens de Nossa Senhora das Mercês, Nossa Senhora do Parto e São Gonçalo do Amarante. Nos nichos, São Raimundo e São Pedro Nolasco.
A Irmandade das Mercês, durante a época colonial, era reservada aos pretos nascidos no Brasil e aos mulatos principalmente, mas no século XIX tornou-se uma importante agremiação. No fim do século XIX o Bispo de Mariana, Dom Antônio de Sá e Benevides conseguiu a elevação, da Irmandade a arquiconfraria, título que até hoje ostenta, sendo a única irmandade do s´[éculo XVIII sobrevivente em Tiradentes.
Matriz de Santo Antônio
A Matriz de Santo Antônio de Tiradentes teve a sua construção iniciada em 1710, no lugar de uma pequena capela bandeirante, que foi a primeira Matriz da Comarca do Rio das Mortes. Em 1732 a Irmandade do Santíssimo Sacramento, em petição à Coroa Portuguesa, diz estar a igreja construída, faltando o forro e o assoalho. Na verdade, em 1733, o entalhador João Ferreira Sampaio trabalhava no altar-mor e em 1736/37 na obra de talha dos muros da capela-mor e arco-cruzeiro. Parece que em 1752 a igreja já estava concluída internamente, pois o pintor Antônio de Caldas, recebia, neste ano, 7.200 réis pelo douramento da igreja.
A igreja foi construída sobre uma colina e com grande aterro na parte fronteira, sua fachada, com duas torres bem desenhadas e frontão composto por duas largas volutas é ornamentada com rocalhas e encimadas por pináculos. No centro do acrotério existe uma cruz da cantaria, ladeada por dois globos flamejantes. Este frontespício foi construído em 1810/16, sob risco do Aleijadinho. O mestre da obra foi Cláudio Pereira Viana, que não só executou este serviço, como também a escadaria e balaustrada do adro, entre 1818 e 1820. Toda fachada foi executada em taipa, tijolos e argamassa, inclusive os ornatos rococó.
O interior de igreja guarda seis altares laterais e o altar-mor.
A talha da capela-mor é, sem dúvida, um dos melhores exemplares de talha barroca D. João V no Brasil e representa uma exceção no desenvolvimento da arte da talha em Minas Gerais, pela sua monumentalidade e pelo inusitado das formas.
O primeiro altar à direita de quem entra é dedicado a Nossa Senhora do Terço.O segundo é dedicado a Nosso Senhor dos Passos. O terceiro dedicado a São Miguel Arcanjo.
No primeiro altar do lado esquerdo existe uma imagem de Nossa Senhora da Piedade, com Cristo nos braços. . O segundo é dedicado ao descendimento do Senhor da Cruz. O terceiro dedicado à Imaculada Conceição.
No ano de 1786 a Irmandade do Santíssimo Sacramento, fabriqueira da Matriz, encomendou um órgão novo em Portugal, para substituir um pequeno órgão existente no coro da Matriz. Manoel Jorge Ribeiro fez a encomenda a seu irmão Domingos Jorge Ribeiro, que vivia no Porto e este adquiriu de Simão Fernandes Coutinho, a parte mecânica de um órgão médio, que chegou em agosto de 1788.
O entalhador Salvador de Oliveira foi contratado para desenhar a caixa do órgão e trabalhar na talha. A pintura e o douramento do órgão foram executados por Manoel Victor de Jesus em 1798.
O forro da nave da igreja, de autor desconhecido, contituído por caixotões artesoados tem dezoito quadros com símbolos bíblicos cercados de folhagens e grotescos em outro.
O assoalho da Matriz foi feito em óleo bálsamo em campas numeradas de 01 a 116. Nestas sepulturas estão enterradas pessoas de todas as classes sociais, desde nobres até escravos.
No adro existe um relógio de sol feito em pedra sabão em 1785, por Leandro Gonçalves
Chaves. Numa das torres existe um outro relógio comprado em Portugal no ano de 1788. É famosa a prataria da igreja, mormente as sete lâmpadas e os tocheiros do altar-mor. A lâmpada grande foi executada em 1740 no Rio de Janeiro e pesa 55 quilos e os tocheiros da banqueta também originários do Rio, datam de 1770/71.
Fotos: Kiko Neto
Santuário da Santíssima Trindade
A primitiva capela dedicada a Santíssima Trindade foi construída na segunda metade do século XVIII, pelo hermitão Antônio Fraga, que administrou até 1794, ano de sua morte. A construção da capela data de 1776 e, em 1718, já estava quase concluída.
Em 1810, sob a administração do tenente João Antônio de Campos, deu-se inicio a construção da nova igreja. O pintor Manoel Victor fez "as plantas e riscos", sendo a obra de pedreiro e carpinteiro executada por Cláudio Pereira Viana, João Damasceno e Antônio Pereira da Silva. A obra se arrastaria até o final do século XIX. A Confraria da Santíssima Trindade só vai aparecer em 1854, data que possivelmente se iniciou a festa, hoje ainda pomposa.
A igreja é simples, sem torres com frontão recortados em volutas acanhadas, tendo no centro o símbolo do Espírito Santo. Não existe talha no altar-mor, que é todo em tabulas recortadas. Existem dois altares laterais bem pobres datados de meados do século XIX. Um dedicado a São José, com interessante imagem do santo e outra ao Menino Deus, já desaparecido. No altar-mor existe a bela imagem do Padre Eterno, sentado em um trono de nuvens, vestido como um papa, com a cabeça coberta pela tríplice tiara e sobre o peito tem a pomba representando o Divino Espírito Santo. As suas longas barbas e a pose hierática nos dão a idéia de um papa da Idade Média. Abaixo está a imagem de Cristo crucificado e Nossa Senhora das Dores. Num dos nichos existe uma imagem de São João da Mata, fundador da Ordem dos Trinitários.
Na paredes laterais a nave existem oito telas, datadas de 1785, que pertencera a Matriz, representando os quatro principais doutores da igreja. Na lateral existe uma "sala de milagres" muito interessante.
A igreja foi elevada a Santuário diocesano por decreto do bispo D. Delfin Ribeiro Guedes em 17 de junho de 1962.
Anualmente se festeja a Santíssima Trindade com grande pompa e muito povo, no mês de maio ou junho, conforme o calendário litúrgico.
Fonte: Olinto Rodrigues dos Santos Filho.
Pesquisador do Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural.
Membro do IHG de Tiradentes
Sec de Turismo